Friday, September 01, 2006

Coisas dela...



A ele sempre lhe tinham dito que conhecia e sabia muitas coisas.
Mas ela, ela sim, tinha tantas coisas que eram dela, só dela, assim dela.
É verdade que muitas delas, das coisas que eram só dela, ele não as percebia bem.
Mas sabia que gostava delas, das coisas que eram assim, dela, assim, um bocadinho diferentes, assim, um bocadinho... peculiares.
Talvez um dia ele as aprendesse, as coisas dela, talvez um dia ele as compreendesse, as coisas dela, talvez um dia ele lhe mostrasse coisas que eram só dele, secretas e indizíveis, verdadeiras umas, imaginadas outras, porque às vezes ele próprio já não sabia bem a diferença, ele que se lembrava de repente de uma imagem (ele estava sempre a lembrar-se de imagens) e misturava as imagens com a realidade do que pensava e do que sentia e às tantas lá estava ele outra vez no seu palco imaginário.
Mas talvez um dia, também, ela o deixasse entrar nas coisas dela, sem que deixassem de ser dela, mas que fossem, também, um bocadinho, dele, de uma maneira, assim, um pouquinho diferente e, assim, um bocadinho... peculiar.
E de todas as coisas reais e de todas as coisas imaginadas, o que ele achava mais graça era quando a ouvia dizer coisas lá dela, só com ela, bem dela, como “tenho uma coisa importante para decidir” e outras coisas assim. Imagine-se, então, quando eram duas. As coisas. Importantes. Dela. Só dela. Assim dela. Ela...