Saturday, July 01, 2006

The hollow man



Aquele era o momento. Já quase não havia sol mas a lua tardava em chegar. Havia uma brisa quente apesar da chuva que ameaçava não parar.Estava deitado na relva, encharcado até aos ossos, indiferente aos olhares dos, poucos, passeantes que não se haviam refugiado dentro das lojas, cafés e restaurantes a abarrotar de gente.Quando finalmente se levantou foi para se dirigir à sua livraria preferida; tinha esgotado a tinta permanente da caneta usada para escrever, laboriosamente, as ideias que a chuva lhe trouxera, no caderno vermelho que ela lhe dera.Apesar do cuidado extremo que tivera não conseguira impedir que uma ou duas gotas de chuva tivessem encontrado refúgio nas folhas garatujadas mas, depois do primeiro prenúncio de irritação, acabara por achar graça aos pequenos borrões que pareciam sublinhar certas palavras.O lugar parecia-lhe agora mais vazio, um deserto de casas cor de rosa velho.Fechou os olhos e imaginou uma figura de si próprio, assim, sozinho, no meio de um lago, primeiro a cores, depois em sépia, depois a preto e branco, cada vez mais negro, enquanto ele se movia, muito lentamente, de forma tão imperceptível que a câmara não registaria nem sequer o último momento antes que ele desaparecesse e o lugar ficasse novamente deserto.