Lá em cima
Todas as coisas que ele via dependiam sempre, na maneira como as via, da perspectiva, da circunstância, de com quem estava, da hora do dia, de outras tantas coisas. Era assim com toda a gente, gostava de pensar. Mas, no fundo, sabia que não. Quanto a si, porque as coisas que via dependiam de outras tantas coisas, por vezes confundia-as. Já lhe acontecera, por exemplo, trocar a Torre de Montparnasse pela Torre Eiffel. Mas, tanto quanto se lembrava, nunca confundira o Chrysler com o Empire. Sabia exactamente a qual deles subira, naquela noite longínqua de Setembro. Estava tanto frio. Quando olhou à volta, lá em cima, não viu uma única coisa que não fosse resultado da criação humana. Nem um bocadinho de natureza à vista. Alguns dir-lhe-iam que não, que também lá estava o Central Park, mas ele sabia melhor. Então sentou-se e chorou. Chorou tanto que achou que seria a última vez que chorava. Mal ele sabia... Mas, de felicidade, talvez tenha sido.